Canto um – guaroj do amor que não mais existe
A solidão que habita nossa casa triste
Em nós, no esquecido gesto de tocar a lava
Arrancada em veste, turvadas retinas
Cristal intacto, jaz a natureza morta
A saudade da fúria desnudante em desejo
Boca em beijos fartos, lambidas, labaredas
Febres de suores em lençóis encharcados
Guardados para um quando que não mais existe
A solidão que habita nossa casa triste
Cristal intacto, jaz em natureza morta
A pele deslizando pelo corpo úmido
De aguado em flores das estradas nuas
Esquecidos ventres, fraquejado em amores
Desavessa as cores que o olhar procura
Pálida tatuagem escondida em panos
Na cicatriz que a memória esgaça
A flor da aura do amor em prantos
Do fraterno hálito das horas largas
A pele deslizando pelo corpo úmido
Desavessa as cores que o olhar procura
Canto dois – guaroj do amor que não envelhece
Fartei de toda tua tanta graça
Dançando a sala no nosso entorno
com passos leves se fez o adorno
Da nossa casa onde a canção atua
A memória lisa verte em pele nua
Teu corpo em minhas mãos ainda resta
Do meu fervor lambendo a nossa lua
Dos seios lindos que tu me emprestas
Fartei de toda tua tanta graça
Da nossa casa onde a canção atua
Reli teu brilho no espelho das horas
As nossas faces em rubor sereno
Bailando a casa sem se ir embora
Teu corpo faz do meu corpo o meio
E no descanso que a ofegância pede
Misturando dedos sem qualquer freio
Nas tuas ondas que o bailar me cede
O horizonte onde todo me enleio
Reli teu brilho no espelho das horas
Teu corpo faz do meu corpo o meio
Publicado na Oficina Santa Sede Módulo Mosaico – inspirada na foto de Terry Widener